19/04/19

O Resto

I
As rosas
estão
na sepultura.

II
Os mortos
um a um
no seu lugar.

III
Os vivos
por dinheiro.

*            *
       *
Quem soube
amar
já morreu faz tempo.

18/04/19

De Maio a Maio Tudo é Sangue

Rio .40
Doença de Ipanema.

Que beleza
de escopeta!

Rio AR 15
Meninos,
bonecos assassinos.

Rio de sangue.
Ou seria mar?

17/04/19

Doença Redundante

Direitos
da pessoa humana
e deveres
da pessoa humana morta.

Quem se declara
o primeiro
ser humano das eras?
Aquele que for gente
atire[-me] logo
todas as pedras.

Iguais
é o que somos.
E a lei é para tolos.

Cadê direitos?
Cadê humanos?
Cadê você?...

07/04/19

Crimes Passionais

Quando o amor está no ar,
relacionamentos ---
latidos, gritos e malditos.

Navalha na carne
(com promessa)
e flores de remorso.

Tudo assim ---
traumatizante.
Amor?
Repugnante.

05/04/19

Assim como
saudade não eh tristeza,

não vi dor
na Rua

da Quitanda ---
só desesperança.

04/04/19

No Peito

Parece cocaína
mas é autoestima.

Minha carne
é felicidade.

E você ---
tem sonhos com o quê?

Passageiro da Agonia

I
Senhoras e senhores, aqui estou. Ou melhor: heis-me aqui, entre a queda e a paranoia, só para dizer o meu nome e pra dizer que amo vocês.
Mentira minha, é claro, porque não vou dizer o meu nome e nem amo vocês. Amo somente os combustíveis: gasolina, álcool, querosene e eventualmente alguma toxina. Amo a deus também. Um deus que me ama e entende, um deus que alucina. (Quem será?)

Faz algum tempo, mudei de cidade: vim parar numa cidadezinha suja e malcheirosa --- repleta de fábricas de celulose; cidade industrial. E, desde então, tenho a mente poluída. E, desde então, venho ganhando a vida como assassino contratado. Mas até que gosto dos sonhos que me fazem sofrer e dos pesadelos que acabam comigo.

II
Sou contemporâneo dos mendigos incendiados e mortos no Brasil. E dos monges tibetanos que se autoflagelam, em protesto, atirando fogo em seus próprios corpos e roupas em plena praça pública.

Vejo poesia em quase tudo: plantações de papoula no Afeganistão, o suicídio do Kurt Cobain, Nelson Rodrigues... E pessoas que apresentam comportamento contraditório.
Acredito realmente em artistas!
E, assim como Lúcio Flávio, bandido carioca da década de sessenta, sou passageiro da agonia --- permanente. Obrigado.