04/04/19

Passageiro da Agonia

I
Senhoras e senhores, aqui estou. Ou melhor: heis-me aqui, entre a queda e a paranoia, só para dizer o meu nome e pra dizer que amo vocês.
Mentira minha, é claro, porque não vou dizer o meu nome e nem amo vocês. Amo somente os combustíveis: gasolina, álcool, querosene e eventualmente alguma toxina. Amo a deus também. Um deus que me ama e entende, um deus que alucina. (Quem será?)

Faz algum tempo, mudei de cidade: vim parar numa cidadezinha suja e malcheirosa --- repleta de fábricas de celulose; cidade industrial. E, desde então, tenho a mente poluída. E, desde então, venho ganhando a vida como assassino contratado. Mas até que gosto dos sonhos que me fazem sofrer e dos pesadelos que acabam comigo.

II
Sou contemporâneo dos mendigos incendiados e mortos no Brasil. E dos monges tibetanos que se autoflagelam, em protesto, atirando fogo em seus próprios corpos e roupas em plena praça pública.

Vejo poesia em quase tudo: plantações de papoula no Afeganistão, o suicídio do Kurt Cobain, Nelson Rodrigues... E pessoas que apresentam comportamento contraditório.
Acredito realmente em artistas!
E, assim como Lúcio Flávio, bandido carioca da década de sessenta, sou passageiro da agonia --- permanente. Obrigado.

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